Autor: Cristhiano Aguiar

Escritor e crítico literário. Atualmente é professor dos cursos de Letras e Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Edita o site literário Vacatussa. No primeiro semestre de 2017, lançará seu próximo livro de contos.

20 de dezembro de 2016 /

Durante a infância, por algum motivo eu tinha pânico de seres do outro planeta. Não consigo dar uma definitiva resposta sobre o motivo disto. Talvez tenha sido a influêcia de algum filme, algo impróprio para minha idade. Lembro de ter assistido, na TV, o clássico Alien, de Ridley Scott, quando criança, durante férias da família em uma praia sergipana. Aquilo me apavorou tanto a ponto de um tio-avô meu, que assistia ao filme comigo, me consolar dizendo “isto não é…

3 de novembro de 2016 /

O que existe do Outro Lado, se perguntava o homem barbudo, os pés descalços; o que existe do outro lado da persiana? *             O homem descalço – a partir daqui, seu nome é Bob – arrastava, em suas andanças pela cidade, seus únicos pertences: dois lençóis grossos, uma mochila rasgada com roupas, um sacolão cheio de latas. Sua companhia era uma cachorra, que ele talvez chamasse:             – Balela, balela.             Ou talvez não. É que o homem tinha…

4 de agosto de 2016 /

Para Nina Entre 1982-1986, eu morei em Berlim. Ao menos, foi o que as pessoas sempre me disseram. Não tenho, no entanto, nenhuma lembrança disto. Minhas recordações da cidade e da Alemanha são todas emprestadas. Suponho, porém, que a não ser que eu esteja envolvido em alguma conspiração maligna (existe conspiração benigna?), este dado biográfico seja verdadeiro. Meus pais e demais parentes insistem em corroborar esta história. Suas versões sobre o tema não carregam muitas contradições – isto parece ser…

3 de abril de 2013 /

Do que nos falam os mortos, quando nos visitam? É a pergunta que se faz, do alto dos seus 82 anos, o marquês de la Tour-Samuel, personagem do conto “Uma aparição”, escrito por Guy de Maupassant e publicado em 1883. Em sua juventude, nosso marquês encontra, na cidade de Rouen, um amigo de infância. Mal o reconhece: o amigo, embora jovem, está com os cabelos todos brancos e anda encurvado. O que houve? Seu amigo “apaixonara-se loucamente por uma moça”;…