“Quando decidi fazer um disco, olhei pra mim pra ver o que eu tinha de mais intenso e mais verdadeiro pra mostrar, e me deparei com um processo de empoderamento, de me assumir e gostar de mim do jeito que eu sou, do meu cabelo. Não só fisicamente, mas da minha identidade. E a Elza [Soares] estava sempre presente nesse processo. Porque ela é uma referência de mulher negra que esteve no mercado musical durante muito tempo, resistindo, e hoje…
Autor: Marina Suassuna
Jornalista, estuda na Pós-Graduação em Fotografia e Audiovisual na Unicap. É repórter da revista Outros Críticos e colabora nas revistas Continente e Cardamomo.
Se um dia a música pôde ser reproduzida e distribuída em grande escala foi graças às tecnologias que permitiram a sua materialização em fonograma e posteriormente em disco. Fruto da conjunção entre a produção dos artistas e as possibilidades de tecnologias, o disco transformou a circulação da música no mundo e a maneira como ela chegava ao público. Ao longo do século 20, seus parâmetros foram sendo determinados e transformados conforme a tecnologia de gravação foi se desenvolvendo, começando pelos…
De Feira de Santana para o palco do Rec-Beat, o canto de Russo Passapusso já ecoou de maneiras distintas. Em 2011, a primeira vez do baiano no Recife foi carregada de timbres e frequências graves. Tratava-se de seu trabalho à frente do Baiana System, que ressignificava matrizes de samba com matrizes de reggae, atreladas à cultura do bemba style, música eletrônica, guitarrada e axé. Passada a primeira experiência, retornar ao mesmo palco quatro anos depois, na 20ª edição do festival,…
Tidos como pioneiros na documentação cinematográfica de universos musicais, os diretores D.A Pennebaker e Michael Wadleigh fornecem retratos autênticos da contracultura americana por meio de seus respectivos documentários Monterey Pop (1968) e Woodstock: 3 days of peace & music (1970). O fato desses realizadores terem testemunhado ao vivo, com suas câmeras, dois dos maiores eventos da geração paz e amor, numa conjuntura política e social de inconformismo e contestação em que a música pop e os festivais ocupavam um importante…
por Marina Suassuna. Em 1965, Elis Regina recebia um bilhete de Vinícius de Moraes pouco antes de subir ao palco da final do 1º Festival Nacional da Musica Popular Brasileira: “Arrasta essa gente aí, Pimentinha”, dizia o poeta, autor da música “Arrastão” junto com Edu Lobo. A canção seria interpretada por Elis na ocasião e transmitida em rede nacional pela TV Excelsior. Em plena década de 1960, os festivais de música popular – ou festivais da canção – eram as…
por Marina Suassuna. Radical defensor das liberdades individuais, Nelson Motta quase sempre sai em defesa de artistas que passam uma imagem transgressora. Com Ney Matogrosso não foi diferente. Ao saber que o ex-vocalista dos Secos e Molhados estava sendo alvo de uma campanha machista e preconceituosa, que combatia a maneira como se expressava artisticamente, Nelson disparou, em crônica assinada no jornal O Globo de 1975: “Que importância terá a masculinidade num intérprete de música popular? E a feminilidade? E a…
por Marina Suassuna. Falar de segregação social por meio da sexualidade foi a bandeira levantada pela Textículos de Mary e a Banda das Cachorra, extinto grupo pernambucano de punk rock, enquanto esteve em atividade, de 1998 a 2004. Tão irreverente quanto o conteúdo das músicas eram as roupas e a performance dos integrantes, que uniam crítica e escracho numa atmosfera sórdida, típica do submundo – artifício usado para falar da violência e intolerância com as minorias. Travestidos de mulheres, Chupeta…
por Marina Suassuna. Há muito tempo que ritmos tradicionais como frevo e o baião – responsáveis pela construção de nossa identidade dentro da música popular brasileira – deixaram de fazer parte do cotidiano do Recife. Antes prestigiados pelo grande público e com amplo espaço nas emissoras de rádio e tv, esses gêneros musicais hoje sobrevivem como nichos de resistência. “Eu vejo a música regional passando por uma grande crise, uma crise de expressão, que nos impede de acessar grandes públicos…
por Marina Suassuna. É interessante perceber a disparidade no comportamento do público de um festival. Obviamente, são várias as motivações que levam as pessoas a frequentarem um evento pautado por uma programação que traz desde atrações estrangeiras a novidades da cena nacional, além de nomes fora do circuito comercial e os que unem o mainstream ao alternativo. Nenhum festival escapa dos nichos. Sempre há o público que vai ver apenas um ou dois artistas específicos. Como também aqueles que, além…
por Marina Suassuna. Saber quem produziu um disco nos revela muito sobre a natureza de uma obra. Desde os anos 1960, quando os produtores assumiram um papel mais direto no processo musical, como criar arranjos e cuidar da engenharia da gravação, a sonoridade e o conceito de um álbum deve grande parte àqueles profissionais. A assinatura estilística do produtor acrescenta bastante em termos de linguagem, tornando-o, muitas vezes, tão relevante quanto o artista no resultado final da obra. O que…
por Marina Suassuna. “Estamos talvez no momento mais político da história do Mombojó por conta de tudo que vem acontecendo em Recife e no país.” A reflexão do vocalista Felipe S., em entrevista ao Diário de Pernambuco, ressoa a máxima da filosofia determinista, na qual o homem é produto do meio em que vive. A premissa é válida, sobretudo, para o artista comprometido e envolvido com seu tempo, cuja obra acaba sendo contaminada pelos ideais e valores discutidos e praticados…
por Marina Suassuna. “Cada pessoa reage à música à sua maneira, e a sensação de deleite que ela provoca é única e intransferível”. A frase dita por Ruy Castro é mola propulsora para uma série de reflexões acerca do alcance gerado pela música. Uma delas é que a sensação de deleite pode estar relacionada à identificação imediata do ouvinte com particularidades de um gênero o qual se aprecia. Ou mesmo com estados e sentimentos transmitidos por uma obra de forma…