por Carlos Gomes.
Título canhestramente modificado de: “Ave, Caezar, morituri te salutant” “Ave, César, aqueles que estão prestes a morrer o saúdam”.
Com ruído e fúria. Abrem as cortinas e o guitarrista Ivinho ensaia chamar para si as atenções da noite histórica, como quase tudo o é quando envolvem o Teatro Santo Isabel e a banda Ave Sangria.
Ainda no campo dos ruídos, microfonias, esbarro e gestual exagerado ao lidar com o roadie e problemas com o amplificador, aquelas primeiras cenas deram o tom da energia contida por tantos anos de margem e provável esquecimento da banda. Com a multidão dentro e fora do teatro, os discos sendo (re)lançados, o coro da plateia em muitas das músicas e o entusiasmo dos músicos que os acompanhavam (Gilú Amaral, Do Jarro e Juliano Holanda, além de Zé da Flauta), alguma coisa de muita misteriosa, só compreensível quando tratamos de música, fez com que a passagem do tempo alimenta-se a música que girou em torno da Ave Sangria, que sobrevive nas mãos de Marco Polo, Almir de Oliveira, Paulo Rafael e Ivinho, sem decepcionar àqueles que tiveram a sorte de ontem à noite confirmarem o que é quase dúvida: a real capacidade de transformação da música.
Do show de despedida em 1974, o jornalista José Teles escreveu em Do frevo ao manguebeat (2000): “a banda apresentou o show Perfumes Y Baratchos, pouquíssimo divulgado na imprensa. Somente três dias depois de ter acontecido é que o crítico Celso Marconi escreveu algumas linhas em sua coluna, enfatizando a atuação discreta do vocalista: ‘Marco Polo é uma figura que lembra Mick Jagger/David Bowie, no entanto, cantou preso, parecendo um tanto constrangido. Não sei se porque autêntica estrela que é'”. Hoje, com as novas tecnologias, a memória se inscreve em muitos formatos. Não faltaram meios por onde escoar a informação de que ontem à noite haveria uma nova apresentação da Ave Sangria. O que não se poderia prever era a dimensão do evento. Dimensão que poderia ser tomada pela velocidade em que os ingressos foram vendidos (24h), a possibilidade de em 2014 termos dois vinis da banda sendo lançados, sem contar a reunião de quatro remanescentes do grupo. Ainda que celulares, câmeras, e postagens nas redes sociais registrassem o evento no calor dos acontecimentos, minutos antes de Ivinho e sua guitarra esbanjarem a fúria que tão bem faz à música, uma pessoa da plateia se queixava do modo grosseiro como o canhoto do ingresso havia sido retirado, pois aquele pedaço de papel agora era sua relíquia, como deverá ter sido a noite, em algum lugar de sua memória.
Os versos “Não se enterre na solidão/ Não se enterre na solidão” cantados por Marco Polo logo no início do show, da música “Lá Fora”, que se repetem até o definitivo “Não se entregue”, encontram diálogo com a própria trajetória da banda e de seus componentes. Se por um lado, o fim da banda e os diversos caminhos tomados pelos músicos, com Ivinho não tendo o tamanho e reconhecimento que sua música (ainda hoje) mereceria ter, a presença deles e a resistência física de seus corpos e canções diante de nós são um bom motivo para reverberarmos com quem está ao nosso lado agora: foi incrível.
Por fim, compartilho da opinião de duas leituras sobre a Ave Sangria, uma antes e outra pós-show. Da jornalista Débora Nascimento, da Continente, sobre Marco Polo: “Por um descuido do destino, o compositor, cantor e poeta não virou um ídolo de alcance maior e a trajetória da Ave Sangria foi precocemente interrompida”. E de Teles: “Ivinho foi a estrela na festa do Ave Sangria”.
Gostaria de ver o Ivinho em seu show solo, tipo aquele que ele fez no festival montreux(suiça)
tem alguns festivais bons em Recife, por ex: abril pro rock, coquetel molotov, aqui vai a pedida…
parabéns ao ave sangria, a produção do show, show 10000000000!!