Inventário do nosso feudalismo cultural 1) O ALGO MAIS QUE OS SIMPLES RÓTULOS NÃO DIZEM O que é tropicalismo: posição de radicalidade crítica e criadora diante da realidade brasileira hoje; vanguarda cultural como sinônimo de militância, da instauração de novos processos criativos, da utilizaçãoo da “cultura de massa” (radio, tv, etc.) com a finalidade de desmascarar e ultrapassar o subdesenvolvimento através da explosão de suas contradições mais agudas; “ver” com olhos “livres”. O que é tropicanalha: atitude conservadora e purista…
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1. Constatamos (sem novidade) o marasmo cultural da província. (Por que insistimos em viver há dez anos da Guanabara e há um século de Londres? Por fidelidade regionalista? Por defesa e amor às nossas tradições?) 2. Recusamos o “comprometimento” com nossos “antigos professores”. (Porque eles continuam mais “antigos” do que nunca: do alto de sua benevolência, de sua vaidade, de sua irritação, de seu histrionismo, de sua menopausa intelectual). 3. Lamentamos que os da “nova e novíssima geração” (a maioria…
Esse personagem estranho do mundo da música não recebe os holofotes da crítica especializada ou da academia. Talvez, isso seja perpassado pelo aspecto negativo que muitos têm diante dessa figura. Para provar isso, podemos até citar o pesquisador e crítico musical inglês, Simon Reynolds, que no seu livro Retromania (2011) afirma que, para ele, os colecionadores eram apenas “loucos que fetichizavam formato e embalagem – vinis coloridos de sete polegadas, versões japonesas de álbuns” (p. 86-87), até que um dia,…
o fazimento dessa escritura não deve ser científica, rígida (já que o seu objeto de estudo/análise se localiza, cartograficamente, no campo da arte). uma escritura que dialogue com seu objeto, que perpasse as sensações e pulsões da obra; que não tente conter ou catalogar desejos, mas que lhes empreste corpo, que lhes proporcione adensamento dar corpo musical-crítico é adentrar, habitar a obra é potencializar (caso haja) suas possibilidades inventivas através da ampliação do seu working space por que traduzir a…
Dizer que Itamar Assumpção é um dos artistas mais importantes do Brasil não é exagero algum se levamos em conta a importância da música popular para a cultura brasileira e o altíssimo grau de inovação que ele introduziu nos padrões estéticos relativos à composição e performance de canções. Ao longo de sua carreira de pouco mais de vinte anos, Itamar inaugurou e consolidou uma maneira única de compor, misturando elementos do reggae, do rock, do funk e do samba. Logo…
Entendemos por cadeia produtiva o conjunto de agentes que fazem parte de um determinado filão relacionados a um produto cultural de consumo (NOGUEIRA, 2008). Sua composição clássica é dividida entre esferas de produção, circulação e consumo (JAMBEIRO, 1975) e, de costume, representada por exemplos de maior força, como, por exemplo, as gravadoras multinacionais (Warner, Sony, EMI, Universal) para o campo da produção. Esse é, portanto, um modelo que enfrenta constante crise na medida em que a indústria passa por crises…
Tendo a Bossa Nova (BN) se caracterizado como um movimento musical voltado contra o “estrelismo” e contra o culto do “solista”, desenvolveria, por outro lado, o sentido do trabalho de equipe. Se anteriormente, numa gravação, o importante era o “cantor” — sua foto, seu nome e seus gemidos… —, sendo todos os trabalhos restantes entregues à rotina mais impessoal, após o advento da BN, estilo musical originalmente voltado para o detalhe, todos os participantes de uma realização musical gravada passaram…
Igor Stravinsky (1882-1971), por uma daquelas coincidências ou acasos que ocorrem na história da humanidade, faz um paralelo entre os compositores da Tropicália, os elementos de bricolagem ou como ele próprio chama, pastiche, e a habilidade em lidar com ritmos, mexendo na ordem e com a ortodoxia rítmica da época, com a mesma ousadia das características do movimento tropicalista. A comparação entre Stravinsky e Picasso no mundo da pintura é inevitável. E o paralelo entre ambos não ocorre apenas em…
(o caixão está vazio) o famoso pós-moderno não é um conceito tão bem explicado como costumam pregar nos círculos intelectuais e semi-intelectuais. o mais comum de se ouvir e ler é que o pós-moderno não acredita na crítica (já que o fato não existe mais a análise se torna obsoleta) não se trata (quando falamos sobre a morte do fato) da inutilidade crítica – já que ela, a crítica como a vejo, não visa uma imposição –, mas da utilidade…
Em junho de 1972, no período pós-tropicalista, quando Caetano Veloso havia acabado de retornar ao Brasil depois do exílio em Londres, o músico escreveu: “O tropicalismo foi uma árvore de mil frutos. Digo isso sem orgulho, sem remorso. Os frutos pecos e podres se espalharam pelo chão e ninguém melhor instalado para sentir-lhes os fuçadores de raízes”. O manguebeat e a tropicália guardam, seguramente, inúmeras diferenças, mas é possível percebermos certas características comuns aos dois movimentos culturais (ou movimentações, como…
“A crítica e a criação podem andar juntas” [1] (Lourival Holanda) A vontade de organizar em livro[2] os ensaios que Ricardo Maia Jr. escreveu durante seis meses no blogue Outros Críticos, nasceu não pela escrita, mas pela oralidade do debate. Refiro-me ao primeiro encontro do projeto “Outros Críticos convidam”, que tinha como tema: “Retoques da Tradição na Canção Popular”, com participação de Ricardo e do cantor e compositor Zé Manoel. Como se tratava da 1ª edição de um…
“O fato é que cada escritor cria seus precursores. Seu trabalho modifica nossa concepção do passado, como há de modificar o futuro.” (Jorge Luis Borges) A canção “A Bossa Nova é foda”, que abre o novo disco de Caetano Veloso com a BandaCê, Abraçaço (2012), formando uma trilogia com os álbuns Cê (2006) e Zii e Zie (2009), retoma criticamente o movimento musical que revelou Tom, Vinicus, Lyra, entre outros, mas, sobretudo, João Gilberto. A música impõe uma outra…