Continuum, o memorioso

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Arte: Paulo do Amparo

por Carlos Gomes.

Dezenove anos havia vivido como quem sonha: olhava sem ver, ouvia sem ouvir, esquecia-se de tudo, de quase tudo. Ao cair, perdeu o conhecimento; quando o recobrou, o presente era quase intolerável de tão rico e tão nítido, e também as memórias mais antigas e mais triviais […] Agora a sua percepção e sua memória eram infalíveis. – Funes, o memorioso (Jorge Luis Borges)

Arte e tecnologia se firmam como pontos de partida do festival Continuum, que em 2014 chega em sua 5ª edição. Ao articular ‘seminários, exposições, experimentações sonoras, oficinas, mostra de vídeo e de games’, as ambiências que envolvem essas formas de interação contribuem para a construção de um vasto panorama sobre os temas que o festival vem desenvolvendo. Tendo como mote a memória, seguindo três abordagens: memória afetiva, coletiva e a negação da memória, a vasta programação promete destrinchar, a partir de vários recortes, como a memória, atualmente, se move entre a arte, tecnologia e a sociedade.

Os seminários se aprofundam no tema memória, como exemplo, “’No futuro o amor e a liberdade serão como num filme?’: a memória do amanhã construída hoje”, com Haroudo Xavier, Jomard Muniz de Brito e Noé Sérgio e “’Modernizar o passado é uma evolução?’: A memória viva dos corpos, culturas e edificações”, com Cristiano Borba e H.D. Mabuse.

No site do festival é possível conferir a programação completa: http://continuumfestival.com/2014/

A revista Outros Críticos é parceira do Continuum nessa edição do festival, com o lançamento da 3ª edição no show de DJ Dolores e Hugo Linns, com o projeto Fuso, no palco Sonoridades. Os músicos foram entrevistados na publicação e ainda participam do projeto “Dois Sons”, com gravação de duas faixas inéditas. Completam a programação do Sonoridades, as bandas Rua, Poruu e o músico Cadu Tenório. Ambos os músicos participam de diferentes seções da revista.

Idealizado e produzido pela Rec-Beat Produções, o festival tem incentivo do Funcultura, do Governo do Estado de Peranambuco, e apoio do Centro Cultural Correios.

Abaixo, a programação do palco Sonoridades:

SONORIDADES*

24/05

16h – Rua

17h – Cadu Tenório/Victim!

25/05

16h – Poruu

17h – Fuso (DJ Dolores e Hugo Linns)

*Descrição das atrações por Continuum.

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Foto: Flora Pimentel

RUA (PE) – Representante de uma nova e instigante cena musical pernambucana, interessada em experimentações sonoras que brincam com a polifonia da canção nordestina. Formada pelos músicos Nelson Brederode (Cavaco), Hugo Medeiros (Bateria), Caio Lima (Voz), Yuri Pimentel (Contrabaixo), Diogo Guedes (Efeitos) e Bruno Giorgi (Texturas). Com cinco anos de estrada, a Rua trafega entre espaços não-tradicionais da cidade e está presente em trilhas sonoras de filmes e espetáculos de dança.

Para a Rua memória é também sinônimo de esquecimento. No Continuum, a banda Rua convida o público a trabalhar novas conexões com sua memória exercitando o esquecimento. Loops carregados de sentimentos etéreo e embriagante, que estarão presentes no segundo disco da banda, previsto para ser lançado em Maio. A provocação desse espaço para se esquecer está no nome da apresentação pensada pela banda, batizada de Limbo. Na experimentação sonora da Rua, a música se transforma em um poderoso canal de comunicação e de acesso a um outro mundo que, para ser explicado, precisa ser sentido tanto por quem toca, quanto por quem escuta.

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Foto: Tay Nascimento

CADU TENÓRIO (RJ) – Artista atuante na cena eletrônica e experimental do Rio de Janeiro. Participou dos projetos “Sobre a Maquina”, “Ceticências” e “Victim!” que apresenta no Continuum. Sempre em busca de timbres de gravações em campo e uso de técnicas da música eletrônica para construir e experimentar novas sonoridades. Seu trabalho já começa a ter, inclusive, eco em festivais de música experimental em outros países.

Microfones de contato, gravações de campo em fitas cassetes e um sem-número de utensílios domésticos, todos adaptados para necessidades de cada música. Victim!, projeto solo de Cadu Tenório, procura um diálogo entre extremos de experiências sonoras. Com uma extensa discografia com direito a distribuição internacional, Cadu está em busca das texturas dos sons saturados. Objetos cotidianos constroem paisagens sonoras que são gravadas e reproduzidas e loops, transformando barulho em ritmo e o ritmo em provocações sobre como aquilo que está em nosso redor se transforma em música, a partir de uma experiência sonora provocadora.

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Foto: Poruu/Divulgação

PORUU (PE) – Canos de PVC, canudos e saxofones rústicos de bambu fazem parte da experiência sonora do Poruu. Em encontro entre músicos de diferentes projetos musicais do Recife, que fazem uma improvisação semi-estruturada de forma bastante singular. A apresentação do Continuum será com temas que tem sido aprimorados em encontros informais, que brincam com panelas, garrafas, sintetizadores e instrumentos tradicionais. Um método colaborativo de composição que busca uma nova estética musical ecológica. O resultado é um coletivo de diferentes antecedentes musicais, na forma de paisagem sonora e música.

Formada por Iezu Kaeru (Embuás), Igor Medeiros (Lirinha) e os pesquisadores Henrique Faz, Lucas Alencar, Marcelo Campello (ex-Mombojó), contando com participações frequentes de amigos músicos, o Poruu aceita o desafio de encontrar materiais cotidianos e criar diálogos com instrumentos tradicionais, experimentando sons, criando novas texturas e desafiando os limites da música.

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Foto: Pri Buhr

FUSO (PE) – O fuso horário é uma metáfora para nossos movimentos diários. Um ponto de partida, tanto físico, quanto imaginário, onde você modifica o espaço por onde se movimenta. Com essa provocação, DJ Dolores promove um encontro de experimentação musical com o instrumentista Hugo Linns.

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Foto: OlgaWanderley

A viola dinâmica de Hugo, executada com pedais de efeitos naturais em instrumentos elétricos, ganha um novo contexto a partir dos loops e inserções de paisagens sonoras criadas por Dolores. O encontro faz parte de um projeto que é proposta pela revista Outros Críticos e vai ganhar materialidade na próxima edição da revista, com a gravação de duas músicas surgidas desse projeto.

Hugo Linns é músico por formação e consolidou seu trabalho a partir do uso da viola dinâmica. Um instrumento que é normalmente utilizado para acompanhar o cantador, surge como elemento principal, experimentado com pedais e trazido para uma sonoridade contemporânea. Helder Aragão, o DJ Dolores, é um dos principais representantes da música eletrônica brasileira, tendo passado por palcos de festivais ao redor de mundo e assinado trilhas de cinema.

Serviço
Continuum – V Festival de Arte e Tecnologia do Recife
16 a 25 de maio – Centro Cultural Correios Recife
Terça a sexta – 9 às 18h / sábados e domingos – 12 às 18h
Entrada Franca

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Outros Críticos Escrito por:

Desde 2008 atuam desenvolvendo projetos de crítica cultural na internet e em Pernambuco. Produziram livros e publicações, como a revista Outros Críticos, além de coletâneas musicais e debates, como os do festival Outros Críticos Convidam.

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