Para quem está longe dos (Ar)Recifes, parece que nosso universo musical está restrito ao frevo do carnaval, ao patrimônio Mangue e aos três grandes festivais que marcam o calendário “turístico-musical” da cidade: Abril Pro Rock, Coquetel Molotov e Rec Beat.
Recentemente, tivemos a abertura de nosso ano sazo-musical: o Festival Abril Pro Rock. Apesar do nome, o evento consegue unir roqueiros, popeiros e indie(gestos). Como é useiro e vezeiro no Recife, há um clima de bochicho numa crítica à curadoria e ao casting do festival, que logo é reencenada quando na presença de seus organizadores. É só chegar Paulo André ou Bruno Nogueira que o assunto muda e as questões se transformam: “como deve ser difícil manter o festival”, “que legal! vocês conseguiram trazer os Sex Pistols Cover” etc. Isso é meio normal, afinal, no fundo, fazemos todos parte da mesma turma, respeitamos o capital simbólico de nossos brothers e queremos ficar bem na fita pra ver se, ao final, rola aquela cortesia (antes que me atirem pedras, ganhei cortesias esse ano para o “dia do rock pesado”, aquele para o qual os descolados torcem os narizes, mas que paga o histrionismo cult “bobo” que nos afunda na lama do quanto mais obscuro melhor).
Mas não estou aqui sentado em minha cama, esperando meu café, para ficar girando ao redor do gasto universo dos festivais recifenses. Quero falar de uma praga que corrói o espaço público da crítica em Pernambuco: a “brodagem”.
Gasta-se linhas e linhas para comentar os aspectos negativos do último filme de Spielberg, mas somos cerceados pela patrulha ideológica identitária se não concordamos com mano Caetano (nessa hora os baianos viram Hermanos!!!) que “Som ao Redor” é o melhor filme brasileiro (quiçá do mundo, já que a distância entre o tamanho de Pernambuco e o universo é esse incômodo estado chamado Bahia) dos últimos tempos.
Pois bem, o que me revira os buchos é ver que a crítica dos jornais de grande circulação – aquela que vai receber as cortesias dos festivais mesmo sem pedir – não exercer seu ofício: não questiona e não coloca no espaço público juízos de valor em torno dos festivais, não faz valer sua capacidade telescópica de ampliar os burburinhos. O que era para ser crítica vira mera descrição.
Ao ler a descrição do Abril Pro Rock do renomado crítico José Teles, só restou-me a sensação de azedume: um cuidado excessivo ao tratar das atrações locais, do tipo, a banda Volver jogou para o público executando a polêmica “Mangue Beatle”, cantada a plenos pulmões pelo público. Ora, que polêmica, aquela de cinco, dez anos atrás da defunta cena pós-mangue?
Onde está a crítica prospectiva que para jogar o difícil jogo das grandes gravadoras alternava resenhas críticas dos últimos lançamentos com uma prospecção do que estava sendo consumido nas cenas musicais alternativas-periféricas dos Arrecifes? Será que o que nos resta são esses burburinhos e meras descrições sem juízos de valor?
Há alguns finais de semana passados fui ao APR Club (pequenos shows que ocorrem antes e depois do Festival capitaneados por sua marca). O APR Club parece ser o modo que o Abril Pro Rock encontrou para se conectar com seu passado de projetor de novidades musicais diferenciadas.
Onde estava a tal crítica no APR Club? Que não escreveu uma só linha sobre a curadoria do evento? Sobre o modo como o tão mal falado metal é sempre casa cheia do festival? Onde está essa capacidade de jogar em nossa cara que, JuveNil e Di Melo (atrações do APR Club que fui) estariam muito melhor em termos de jogos identitários musicais da atual cena recifense do que Tagore e cia? E que dizer dos batidos Móveis Coloniais, a atração nacional da primeira noite do festival? Que dizer das bandas punks que vieram diretamente do túnel do tempo do “um dia fui legal”? Será que aos blogs e sites restam à brodagem? Aos críticos à descrição chapa branca?
Então tá, voltemos ao mundo dos melhores do mundo. Só nos resta sentar no Frontal (mais um jeito indie(gesto) de frequentar lugares “bobos”, querendo, ao mesmo tempo, fazer parte e separar-se – não por acaso, o bar da frente se chama Central, poderia ser maneiro, descolado de festas ditas cult), reclamar dos curadores dos festivais conhecidos, falar mal do crítico e quando eles aparecerem, chamá-los para uma cerveja e mudar de assunto, afinal, depois do Abril vem o Molotov, e temos de garantir nossas cortesias, mesmo que esses festivais não seja mais o que foram.
por Jeder Janotti Jr.
Foto de capa: Divulgação/José Teles (Jornalista e crítico musical do Jornal do Commercio. Foto Disponível em seu perfil do Facebook)
Foto 2. Cartaz do APR CLUB
Ei, Jeder. Teve texto falando mal da escalação do festival, sim, publicado em jornais. E, depois dos shows, nas coberturas também. Você só leu o de Teles? :)
Mas concordo que falta crítica. Não só aos festivais, mas a tudo. Em tempo, conectando os pontos, muito do que percebemos como crítica especializada, hoje, falou coisas negativas do festival no Facebook, nos blogs, nos twitter, etc. Mas precisa de um acompanhamento mais próximo – como defendi na minha tese, aliás! – para perceber!
Os críticos são as pessoas mais frustradas do mundo. A primeira noite do Abril tem sido muito chata, este ano salvou-se Television pela história e Siba, sempre muito autêntico, o resto poderia ser dispensado. Já a noite do rock pesado, a cada ano tem se superado, essa banda punk da qual o infeliz citou como “um dia foi legal”, é Dead Kennedys. O formato do Abril pro Rock só existe porque lá traz uns moleques que andavam insatisfeito com a “cena” local decidiram fazer eles próprios seus shows, dentre eles o Dead Kennedys, que apesar da ausência de Biafra fizeram um show histórico. Isso é a opinião de um frequentador assíduo deste festival que me proporcionou ve alguns shows, de algumas bandas que eu nem imaginava nos meus melhores sonhos vê. Já esse papo de Indie, Central, crítica musical (frustração musical), pessoas descoladas do CAC eu deixo pra vocês profissionais e estudantes de comunicação que conseguem deixar as coisas muito chatas. O defeito da Astronave é não utilizar de seu respaldo para organizar shows de artistas/bandas daqui junto com bandas consagradas de fora. O Recife é carente de bons shows durante o resto do ano, porque só trazem esses monstros sagrados da MPB, Roupa Nova, Titãs e demais coisas do tipo, esse pessoal já viraram caricatura deles mesmos, tem muita coisa boa rolando no underground, so falta um pouco mais de coragem dos produtores para fazer eventos que possam agitar esse metrópole efêmera. Abraço