(nem) todo compositor pernambucano é um complexado OU

 

recalques nordestinados:
OS que não se deparam com o OUTRO

por Karol Pacheco.

“O filme SETE CORAÇÕES veio ultrapassar os recalques nordestinados & outros diante dos AXÉS, longe dos pelourinhos. Mas Naná Vasconcelos jamais perderá o bonde nem o bode das historiografias.” – Atentado Poético de Jomard Muniz de Britto, Velório poético: o que é isto?

“Recalque não tem remédio. Recalque puxa recalque. é o seguinte: eu queria chamar a atenção de vocês para uma coisa: a cultura brasileira, em minha opinião precária, sofre influência muito grande da psicanálise. As pessoas não querem saber disso, não. Psicologia, psiquiatria, psicanálise, então?! Lacan é um terror. Ninguém consegue entender, pois eu leio. Não entendo, mas gosto. Aí o pessoal acha que eu quero ser diferente. Então, eu acho que há uma tendência de ‘quando eu for ler direitinho, eu vou descobrir’. Não. é uma tentativa de superar o recalque pelo desejo. Então, eu noto muito isso, é por isso que eu gosto muito do filme Era uma vez eu, Verônica, mas eu não aceito que o Recife goste muito de polarizar as coisas. Febre do rato ou O som ao redor. Tem aquele campeonato: Santa Cruz e Sport. Eu tenho que assistir três ou quatro vezes um filme desses pra ter uma opinião. Eu ouço a opinião dos meus amigos e fico encucado. Uns dizem que os atores estão fracos, que não escolheu bem. Eu digo, “Ah, não tinha percebido isso, vou assistir outra vez”. Quando eu vi Era uma vez eu, Verônica, eu disse: “Pronto, superei o impasse entre Febre do Rato e O som ao redor.” – Jomard Muniz de Britto, em conversa na seção Crítica de Boteco, na 6ª ed. da revista Outros Críticos.

– parem a “cena cultural” recifense, que eu quero descer!
as aspas abraçam a cena dos complexados, recalcados
em sua produção e criação que não se pode lançar à linha de fogo

que exista alternativa à adoração cega e surda dos mangueboys
em detrimento da observação empática
dos caranguejos entre as havaianas perdidas no galo,
das marisqueiras com fome.
dos barqueiros dando espaço aos catamarãs,

devoto aqueles que bebem skol mijo-milho sem torcer o nariz; ante os que bebem schin com saudades da heineken

a internet se inflama gratuitamente.
o gás dessa queima é a devoção pela mídia,
pelas crias e cobaias globais ou mtvais.
joga-se na fogueira o pau de quem não o paga.
viva a resistência política do brega bregoso
música (sim, ativistas umbilicais!)
“que não representa o recife”
nem as coletâneas homogêneas e gentrificadas de música de pernambuco

bonito – os paetês dos caboclos de lança, feitos com recursos próprios, posteriormente usurpados em cartões postais do poder público
feioso – o brega rasgado, negado, tocado, cantado e sarrado no Clube Estrela de Camaragibe, no Flamengo de São Lourenço da Mata – este, nem o governo quer

“Assim, a cultura pop nos alimenta com diferentes modos de entrar e sair do mundo. Essas rotas também podem ser da ordem do dissenso, ou seja, da política, como também simples mais do mesmo. Assim surgem questões da política das artes: quais são os preços e os alcances, as concessões que se permitem esse fazer político? Será do enfrentamento um cinema para poucos, a música dos descolados eleitos? Ser popular não pode ser também um ato político?” Jeder Janotti Jr., em Arte & Política: Cult ou Pop?, na 6ª ed. da revista Outros Críticos.

aos meninos de shopping,
àqueles cujo som da periferia se toca somente na periferia de casa
cozinha, área de serviço, quarto-senzala e, cada vez mais, quarto do adolescente que não tem culhão para descer pro play.
nunca na sala, o que seria um abuso ao moralismo dos Atuais e Contatos perante a educação escusa nas salas de aula da favela e da zona da mata.
(vide Incômodos da Música Brega, de Thiago Soares, na última OC)

higienizem suas próprias estupidezes; a intolerância é pariceira da mediocridade.

e a alimentação ego-dual segue:
é rosa OU azul;
zona norte OU zona sul;
boyzinho OU boyzinha.
é encardido sem vez;
zona oeste sem vista;
maloqueira sem voz.

Arte de capa: Herbert Baglione.

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Karol Pacheco Escrito por:

Jornalista e repórter da revista Outros Críticos. Diretora da Fundação de Cultura de Camaragibe. Roteirista e performer.

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