
por Marina Suassuna.
“Estamos talvez no momento mais político da história do Mombojó por conta de tudo que vem acontecendo em Recife e no país.” A reflexão do vocalista Felipe S., em entrevista ao Diário de Pernambuco, ressoa a máxima da filosofia determinista, na qual o homem é produto do meio em que vive. A premissa é válida, sobretudo, para o artista comprometido e envolvido com seu tempo, cuja obra acaba sendo contaminada pelos ideais e valores discutidos e praticados no âmbito em que circula. Neste sentido, ter consciência e, principalmente, visão crítica acerca do caos urbano que perpassa as cidades brasileiras, – em particular, o Recife – é fundamental para entender a postura inquietante que o Mombojó assume em seu novo disco de estúdio, intitulado Alexandre. O álbum parece engrossar o coro da parcela da população recifense que vem reagindo aos ditames políticos e econômicos, sobretudo ao levantar a bandeira de movimentos como o Direitos Urbanos, cujos textos foram inspiração para a letra da música “Me Encantei por Rosário”: “Empreender e se desenvolver pesa mais que o amor/ É um poder que destrói e constrói a seu favor/ Não quer saber do antigo.”
Alexandre, portanto, soa como uma reação político-musical, manifestada não só nas letras das composições, mas também na sonoridade, que foge dos padrões adotados pelo grupo ao longo de seus 13 anos de carreira. A necessidade de sair da zona de conforto é evidente a cada faixa, à medida que vinhetas, timbres eletrônicos, passagens instrumentais, improvisações e vozes transfiguradas surgem para desfazer qualquer expectativa de continuidade do que a banda fazia no passado. Estruturas anteriormente exploradas, como o formato canção e os instrumentos acústicos, dão lugar a novas estéticas e abordagens, que vão do R&B – em especial Justin Timberlake – passando pelo Radiohead à banda Stereolab, maior referência musical dos pernambucanos desde o início da carreira.
Há uma sensação de aventura e renovação que estimula os ouvidos logo na primeira audição do álbum. Cada faixa assume rédeas diferentes, cada uma com uma imprevisibilidade única e convidativa. É como se Alexandre tivesse se configurado como um campo fértil, onde a banda se sentiu à vontade para se esbaldar em termos de criatividade, discurso e experimentação. Com exceção das faixas “Hortelã”e “Pro Sol”, que mais se aproximam dos trabalhos anteriores do grupo, o repertório de Alexandre caminha por referências distintas dentro de um mesmo contexto, sem perder o vínculo com as raízes sonoras que colocaram a turma pernambucana no mapa da música brasileira. Fazendo jus a “Rebuliço”, música que abre o repertório, o Mombojó certamente chegou para promover tumulto (no sentido mais positivo da palavra) nas estruturas e conceitos firmados ao longo de sua discografia. Afinal, descortinar universos e exercitar novas linguagens é transcender limites e, ao mesmo tempo, provocar – de forma construtiva – o público, que muitas vezes se acomoda diante de uma abordagem musical já consolidada pelo artista, deixando de despertar para novas experiências sonoras.
Publicado originalmente em agosto de 2014, na 4ª edição da revista Outros Críticos.
SERVIÇO
Mombojó apresenta o álbum “Alexandre” no Festival Rec-Beat, na segunda-feira de Carnaval (dia 16), às 00h30.
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