O personagem Ariano Suassuna

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Foto: Ricardo Moura.

O Movimento Armorial nunca foi, a priori, como outras variantes de nacionalismo, uma coisa que me interessasse muito. A música Armorial continua não me interessando tanto, apesar de admitir que acho a ideia boa. É um embrião que pode e vem sendo desenvolvido. Porém, depois de um ano casado com uma pesquisadora que estuda a fundo o tema e o seu personagem central, você termina aprendendo algo e tendo alguma ideia do que era esse agregado, essa verdade que envolvia Ariano Suassuna e as pessoas do seu cerco. É difícil não ter um grande respeito por alguém que pensava a arte como um todo e possuía um projeto estético claro e fortemente embasado nas mais diversas frentes. Porém, não vou discutir o Movimento Armorial em si, nem a obra de Suassuna, muita coisa foi e ainda vai ser falada sobre estes dois aspectos. Me concentrarei em outro ponto.

Acho que onde ele fará mais falta e um legado que ele deixa, e que aparentemente está sendo menos falado, é o do personagem que falava realmente o que pensava. A sua postura de defender sem concessões, com unhas e dentes a sua verdade. Concordemos ou não com as críticas que ele fazia, estas eram embasadas e fundamentadas em ideias e conhecimento estéticos oriundos de uma profunda reflexão pessoal. Não eram só achismos ou meros gostismos, mas sim questões conceituais. Havia uma radicalidade de posição e uma busca de coerência de pensamento e delimitação do campo e espaço em relação ao outro, uma afirmação negativa contundente do seu projeto estético. Ele não precisava fazer média com ninguém e demonstrava claramente que achava que nem tudo é válido e que o vale tudismo que impera hoje não deve ser aceito de boca fechada, que não devemos engolir e achar tudo bom. Ele estava pouco preocupado com gostos, cenas, modismos e não ficava procurando achar coisa boa onde não tem. Havia um ideário e a perseguição por este era o que importava.

Reitero que não concordo com tudo que ele defendia (basta ler os meus artigos anteriormente publicados aqui no Outros Críticos para se ter uma ideia concreta disso). Por exemplo, a sua luta contra a guitarra elétrica. Entendo a sua ideia por trás, o simbolismo que este instrumento carrega e o porquê dele ser utilizado por Ariano como contraponto em relação ao que ele defendia. Porém, ao meu ver, era uma luta errada. Esta é apenas um instrumento. Talvez houvessem outros exemplos mais substanciais para ele embasar as suas ideias. Mas no fundo isso é o menos importante. Esse e outros detalhes do seu pensamento são isso, apenas detalhes.

Mais importante é nos mirarmos e talvez tentar seguir o exemplo de alguém que não aceitava o qualquer coisismo e lamentar a perda de alguém que era voz ativa contra a hegemônica indústria cultural que impera atualmente.

Foto de capa: Leo Martins / O Globo. Extra.

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Fred Lyra Escrito por:

Musicólogo e doutorando em filosofia na Universidade Lille 3.

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