Em seu romance Um detalhe em H (2013), Fernando Mendonça mescla passado, narrativa, cotidiano, sexualidade e cinema. A vida é como um conta gotas: nada de mais e demais acontece, exceto a vida em si. E ela não é fascinante por ser uma narrativa literária ou por possuir o cunho de obra artística, o fascínio do jovem Hugo pelos detalhes são sua inocência diante da vida, um tipo de infância que sempre teremos: o narrar nossas vidas pelos detalhes aos outros indiferentes; a nós fascinante por sermos os fazedores das horas em que vivemos.
Não é um livro fácil para quem não está acostumado a narrativas descritivas tanto do universo físico que cerca o protagonista como do estado de espírito de Hugo: cada detalhe conta para aqueles que são solitários, cuja doçura na vida depende do carinho do pai que lhe dá mais do que você precisa em termos de afeto, do pedaço de bolo que se torna uma tarde inteira vivida.
É por ser absolutamente uma descrição da vida que faz Um detalhe em H ser mais do que detalhes: ele é o próprio Fernando, curador de sua existência casual vivida de modo amplo: quando o autor e livro não se separam: essa é a dificuldade de criticar a escrita de um amigo: você não sabe se gosta mais do livro por ser um bom livro ou por também ser parte de alguém querido, mais um detalhe que engrandece Fernando como autor em construção e como afeto meu há um tempo já.
Minha própria resenha se torna apenas um detalhe: a narrativa descritiva de Um detalhe em H é tão generosa, enquanto entrega, enquanto detalhes e retalhes de uma vida ainda em construção, de um autor que ainda está se achando, que meu simples comentário não passa de tentativa leviana de descrever Fernando e seu livro. O bom mesmo é ler a obra. Em cada pequeno, pequeno, pequeno detalhe.
por Cecília Shamá.
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