resenha: Ex-exus – Xô

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Capa do álbum “Xô” – Foto: Quel Valentim

A banda Ex-exus sempre teve a subversão como alicerce na produção de suas obras, fossem elas canções, vídeos, fotografias ou suas performáticas apresentações musicais. Não consigo ouvir o primeiro disco dos Ex-exus, , sem pensar na Comuna Experimental (depois rebatizada Comuna) e no disco JMB em Comuna. As canções de são desenvolvimentos desses trabalhos, porém, com outros filtros estéticos a dominar o ambiente de criação. A teoria da carnavalização desenvolvida por Bakhtin pode caber como escopo crítico para uma audição mais atenta da estética do grupo formado por Ricardo Maia Jr., Bruno Freire, João Marcelo Ferraz e Amaro Mendonça.

Os Ex-exus subvertem – por meio da ironia, paródia, deboche – determinadas manifestações artísticas, tendo na estrutura básica do rock o seu ponto de partida. Os atentados poéticos de Jomard Muniz de Britto foram, de certa forma, o primeiro fulgor estético para o fim e o princípio de uma outra banda. Enquanto a Comuna experimentava com o domínio técnico e poético, os Ex-exus carnavalizaram as suas experiências, sem temer o ridículo (conceito mor de JMB), para mimetizar o homem contemporâneo, dando voz às suas incapacidades e falsas moralidades. As canções de estão sempre com o dedo em riste. A carnavalização, presente em canções como “O bloco que você me deu”, “Música Romântica”, “Carne Humana”, “A culpa é minha e eu boto em quem eu quiser” e “Pra Ivete cantar”, aliam o discurso afirmativo das letras a uma sonoridade pungente, em especial o frenesi sonoro a partir do grito, guitarras e piano dos versos: “O bloco que você me deu me deu me deu”. Esse discurso desconstrói as tradicionais canções de amor, a voz suave, melancólica, é substituída por grunhidos, esporro, escarro. O retrato do amado/a, aquele que se estampa em porta-retratos, está estilhaçado, “derretido”, mascarado. Os Ex-exus escondem a cara para assumir a máscara das relações humanas, amorosas.

02 – O bloco que você me deu by Ex-Exus

A regravação de “Desejo Louco”, de Fernando Mendes, que diz: “Tive esse desejo louco de beijar tua boca,/ De morder sua língua, de furar teus olhos,/ De arrancar seus cabelos, de te acorrentar”, serve como apropriação certeira para a estética do álbum – a participação vocal de Catarina acentua bem essa escolha. No entanto, o arranjo perde muito ao emular a sonoridade brega, afastando-se da idiossincrasia sonora da banda, o que a ela é particular.

O álbum faz jus à espera de um som que equilibrasse a potência ao vivo das apresentações com a escuta individual dos ouvintes. Com , diferentemente dos EPs, de um modo geral, agora é possível escutar e ser incomodado pela presença provocativa e constante das vozes estejam sempre aqui da banda.

por Carlos Gomes.

Publicada originalmente na revista pq? – ed. 05

 

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Carlos Gomes Escrito por:

Escritor, pesquisador e crítico. É editor dos projetos do Outros Críticos, mestre em Comunicação pela UFPE e autor do livro de contos "corto por um atalho em terras estrangeiras" (2012), de poesia "êxodo," (CEPE, 2016) e "canto primeiro (ou desterrados)" (2016), e do livro "Canções iluminadas de sol" (2018), um estudo comparado das canções do tropicalismo e manguebeat.

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