Resistimos, Estelita!

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Foto: Ana Lira

por Alessandra Leão.

No carnaval desse ano, durante o meu show em Recife, convidei a Troça Empatando Sua Vista, formada por membros do grupo Direitos Urbanos, pra “empatar” a vista do show, do palco da prefeitura… No meio da folia, no meio da festa, tivemos um momento para lembrar de questões que nos “empatam” em tantas situações do cotidiano, “empata” nossos sonhos e “empata” nossas perspectivas e vidas de forma tão devastadora.

Ao final, veio um senhor até o camarim e disse: “achei muito bom o seu show, concordo com o que você falou sobre a cidade… mas você sabe, que depois disso, vai demorar muito pra você voltar a tocar aqui, não é?” Essa frase, diz tanta coisa sobre nós, sobre como vivemos e sobre esses medos sempre presentes. O medo cala, paralisa, oprime, mata. Tenho lutado contra os meus.

Em Pernambuco, temos uma história marcada por profundas opressões e violências, de senhores de engenho e coronéis, que só foram mudando o nome dos cargos ao longo do tempo, mas que continuam tratando a cidade como se estivessem no alto da escadaria do seu engenho, com o chicote na mão, pronto pra estalar. Mas também somos feitos de uma longa história de lutas e reivindicações sociais e isso está vivo, pulsante e latente.

Nos últimos anos, minha esperança tem se renovado e volto a acreditar que Recife pode ser um lugar mais acolhedor, que nos move, nos impulsiona e nos encoraja. E sim, agradeço a cada um do grupo Direitos Urbanos por isso, me sinto parte desse grupo, pois compartilhamos das mesmas esperanças e desejos.

Recife é onde gostaria muito de estar esses dias, principalmente no próximo domingo. Não estarei, infelizmente, mas isso não me afasta do que está acontecendo por lá, nem tampouco me tira a vontade de lutar e colaborar de alguma maneira para tudo o que está acontecendo.

Hoje à noite, aqui em São Paulo, assim como fiz no carnaval e como tenho feito há tempos, cantarei e falarei sobre nós, sobre nosso direito de andar nas ruas, de construir uma cidade mais decente e justa, e sobre o nosso direito de cantar e tocar até de manhã, de cultuarmos (ou não) o deus que quisermos. Sobre o nosso direito de não ter medo.

Que se renovem as nossas forças e esperanças todos os dias.

Resistimos!

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Alessandra Leão Escrito por:

Cantora, compositora e percussionista.

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